Materiais diversos

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Reportagem Jornal Estado de Minas

Giselle Nogueira e Marcos Vinícius trocam ideias e sonham
com o futuro, com a ajuda da estudante de design gráfico
da
Uemg Thaís Magalhães



Alunos do ensino médio, Rafael Tavares e Bárbara Neves se
inspiram no voluntário Ademar Oliveira Júnior, estudante de
arquitetura e urbanismo da PUC Minas que ajuda na criação do glossário

fotos retiradas por MARIA TEREZA CORREA/ EM/ D.A PRESS



D MAIS
Libras decifra termos técnicos Projetos inéditos do Cefet-MG adaptam vocabulário específico da arquitetura e da engenharia civil para a língua de sinais, beneficiando estudantes surdos



Segue a reportagem completa

Terça-feira, 13 de outubro de 2009


Glória Tupinambás


Mergulhados no mundo do silêncio, estudantes surdos reforçam o poder da língua de sinais e dão um passo adiante rumo ao conhecimento. Dois projetos inovadores, desenvolvidos pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG), abraçaram a missão de adaptar, para libras, palavras específicas da arquitetura e da engenharia civil. O desafio, que envolve alunos de níveis médio, profissionalizante e superior, visa criar um dicionário com novos símbolos e um manual bilíngue para o ensino de desenho arquitetônico.

Mais que desvendar o universo dos projetos, curvas e formas, a iniciativa significa uma esperança de educação de qualidade para 776,8 mil brasileiros surdos em idade de escolarização, segundo dados do Ministério da Educação (MEC). Os projetos do Cefet-MG estão entre os 120, de instituições diversas, apresentados na semana passada no 1º Encontro Jovens Pesquisadores, da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia (Sectes), durante a feira de inovação tecnológica, Inovatec, em Belo Horizonte. O encontro de jovens teve como objetivo estimular neles a vocação para a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação. Amanhã, a Sectes anuncia os vencedores, que recebem o prêmio com festa no dia 22.

Azulejo, argamassa, chave de fenda, caixa-d’água, escada e pavimento. Palavras e expressões aparentemente simples para quem não tem limitações auditivas são verdadeiras incógnitas para os surdos e precisam ser traduzidas letra a letra numa aula de desenho arquitetônico. “A maior parte da terminologia usada na arquitetura e na engenharia não existe ainda na língua de sinais. Isso significa que temos que soletrar as expressões para os alunos, o que dificulta muito o ritmo da aula e o aprendizado. Nos dois projetos, estamos catalogando cerca de 600 termos técnicos ainda inéditos em libras para ampliar o acesso dos alunos a essa área do conhecimento”, explica a orientadora do trabalho e professora do Departamento de Engenharia Civil do Cefet-MG, Vera Lúcia de Souza e Lima.

Os projetos fazem parte do programa de Bolsas de Iniciação Científica Júnior (BIC-Jr), financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), e reúnem alunos do Cefet e da Escola Estadual Maurício Murgel, no Bairro Nova Suíça, na Região Oeste de Belo Horizonte, além de estudantes voluntários da PUC Minas e da Universidade do Estado de Minas Gerais/Escola Guignard. Iniciadas em agosto do ano passado, as atividades demandam 16 horas de trabalho semanais e devem ser concluídas em julho de 2010.

A partir da elaboração do novo material didático, o Cefet também espera abrir, a partir do próximo ano, um curso de extensão em desenho arquitetônico para jovens surdos matriculados na rede pública de ensino médio. “Esse é um projeto piloto que vai nos dar condições de perceber a aplicação das pesquisas no dia a dia. Com isso, vamos aumentar as chances de inclusão dos estudantes com deficiência auditiva em cursos técnicos de nível médio em edificações e em graduações de engenharia civil e arquitetura. O grande diferencial desse trabalho é contar com a presença dos surdos, permitindo assim que o objeto de pesquisa seja também o pesquisador”, afirma Vera Lúcia.

SONHOS O esboço do glossário e do manual bilíngue já começou a ser desenhado pelos bolsistas em programas de computador, com o apoio de um intérprete da língua de sinais. E, mesmo antes de ganhar contornos e formas de um livro, o projeto mexe com os sonhos e a esperança de jovens estudantes, como Bárbara Naves da Silva, de 20 anos, e Rafael Coelho Tavares, de 21, alunos do 2º ano do ensino médio da Escola Estadual Maurício Murgel. “Não conseguia imaginar qual profissão eu teria no futuro. Sempre gostei de desenhar, mas nunca pensei que pudesse me formar nessa área numa faculdade, pois faltam recursos didáticos para estudar melhor. Hoje, vejo como real a chance de ser arquiteto ou design gráfico. É muito bom sonhar com uma carreira”, conta Rafael, que busca inspiração no colega Ademar Alves Júnior, de 21, aluno do 4º período de arquitetura e urbanismo da PUC Minas e voluntário da pesquisa do Cefet.

Planos e projetos também já fazem parte da rotina de Thaís Magalhães Abreu, de 25, que divide tudo o que aprendeu nos oito períodos já cursados de design gráfico na Uemg com os amigos Giselle Nogueira de Jesus e Marcos Vinícius Oliveira Silva, ambos de 17 e alunos do 2º ano do ensino médio. “Sentimos muita dificuldade para estudar, porque falta material específico para os surdos e os intérpretes precisam soletrar as palavras com a mão. A arquitetura é muito visual, assim como os sinais, e o glossário vai significar uma oportunidade de estudo mais tranquilo e promissor para os futuros universitários”, diz Thaís.


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